Atraso de 30 minutos no sistema de rádio-escuta era o principal trunfo dos radiojornalistas contra a censura gerada pelo AI-5
Maria Ísis

Em geral, os militares mantinham um rádio e funcionários que se revezavam, todos os dias, escutando e controlando a programação das emissoras. Sob este esquema sufocante de fiscalização, o compromisso e a malícia de muitos jornalistas contribuiu para soluções criativas de burlar o esquema montado pelos militares e ganhar tempo na veiculação dos fatos.
O radiojornalista Manoel Canário (foto), diretor do Departamento de Notícias da Rádio Sociedade nos primeiros anos do AI-5, explica que o trabalho feito pela rádio-escuta tinha 30 minutos de atraso. Esta janela de tempo permitia que muitas notícias fossem ao ar longe dos olhos, e ouvidos, dos militares.
"Eu aproveitava o imediatismo do rádio para divulgar as notícias que eu sabia que seriam proibidas meia hora depois, sem que eles pudessem tomar conhecimento disto. Havia um atraso no sistema de escuta do Comando da 6ª Região Militar. Quando chegava ao meu conhecimento um fato que acontecera em Salvador, ou em outro município da Bahia, muitas vezes, eu ia ao estúdio e improvisava a notícia antes que chegasse o comunicado da Polícia Federal estabelecendo a proibição da veiculação daquele episódio", revela.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário