sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Contra o tempo, a favor da notícia

Atraso de 30 minutos no sistema de rádio-escuta era o principal trunfo dos radiojornalistas contra a censura gerada pelo AI-5

Maria Ísis

Nos anos de chumbo, a censura estendia seus tentáculos a todos os veículos de imprensa. O rádio, mesmo com o caráter instantâneo da produção, recebia um controle sob medida - pensado especialmente para acobertura radiojornalística - o monitoramento através da rádio-escuta.

Em geral, os militares mantinham um rádio e funcionários que se revezavam, todos os dias, escutando e controlando a programação das emissoras. Sob este esquema sufocante de fiscalização, o compromisso e a malícia de muitos jornalistas contribuiu para soluções criativas de burlar o esquema montado pelos militares e ganhar tempo na veiculação dos fatos.

O radiojornalista Manoel Canário (foto), diretor do Departamento de Notícias da Rádio Sociedade nos primeiros anos do AI-5, explica que o trabalho feito pela rádio-escuta tinha 30 minutos de atraso. Esta janela de tempo permitia que muitas notícias fossem ao ar longe dos olhos, e ouvidos, dos militares.

"Eu aproveitava o imediatismo do rádio para divulgar as notícias que eu sabia que seriam proibidas meia hora depois, sem que eles pudessem tomar conhecimento disto. Havia um atraso no sistema de escuta do Comando da 6ª Região Militar. Quando chegava ao meu conhecimento um fato que acontecera em Salvador, ou em outro município da Bahia, muitas vezes, eu ia ao estúdio e improvisava a notícia antes que chegasse o comunicado da Polícia Federal estabelecendo a proibição da veiculação daquele episódio", revela.

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Expediente

Edição
Tatiana Lima (Mtb 1473), Ronney Argolo, Maria Ísis
Redação
Local: Ana Carolina Souto, Midiã Santana, Leandro Pessoa, Maria Ísis, Ronney Argolo.
Nacional: Cássia Duarte, Bruna Braga, Fátima Reis, Eduardo César.
Internacional: Laura Santana, Jaqueline Barreto.
Fotos: Leonardo Carvalho.